Mariana
Quanto Vale a sua Vida
Rio Doce
Vale do Rio Morto
Antes de mais nada, saibam que este post não vai ser aquela coisa normal do blog de diversão, música e séries, o assunto é sério e as pessoas estão aterrorizadas.
A menos que você more em uma caverna, embaixo de uma pedra, ou simplesmente não assista os jornais, você sabe do que estou falando. Estou falando sobre as barragens Santarém e Fundão da Mineradora Samarco (pertencente a Vale e a BHP Billiton) que foram rompidas no início do mês por negligência dos donos sob a fiscalização.
A mineradora rompeu não só barragens como muitas casas, cidades, vidas e o nosso grande Rio Doce que banhava de Minas Gerais ao Espirito Santo, do mineiro ao capixaba, de todos à ninguém.
Eu sou mineiro, sou valadarense, e, até o momento, não sabia o que era ver o povo ter sede, o que era o desespero pela água, o que a ignorância podia fazer.
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"Era uma vez
Não tão distante
Onde tinha macaco
Raposa e elefante
No quintal da moçada
Um trio gigante
Nesse tempo
É bom lembrar
Que por tudo passava
Um rio a navegar
O menino não via apenas água
Via água, céu e ar
Como tudo tem seu tempo
Viajavam sem temer
O começo de algo novo
Ou o final do amanhecer
Menino que navegava em olhares
Já que a mãe não o deixava descer
O rio é tão fundo, filho!
Melhor não correr o risco
Não estou correndo mãe
Estou escrevendo sem serviço
Vá brincar no quintal
Enquanto aquilo e isso
Tanta coisa que aconteceu
E o menino não percebeu
Que a gente, você e eu
Nadamos num mar meu
Porque água doce não tem mais
E a saudade não favoreceu
Foi rápido demais
Não deu pra se esconder
Gritei minha mãe aos poucos
E aos bichos tentei acolher
Mas meus braços são pequenos
Ainda tento entender
Eu não quis mergulhar no rio
Desse jeito
Sem pirueta, sem sorrir
Queria ter ido no leito
E plantado flores antes que ele
Se sentisse sozinho, que tivesse aceito
Mas mãe, estou bem aqui
Criei um tipo de amizade
Onde o rio mora em mim
E pra onde quer que eu nade
Não tenho mais escolha
Vivo de uma antiga humildade
Não vivo
por
Calamidade."
- Déborah Fortunato, 14 anos
- Déborah Fortunato, 14 anos
Eu vejo pontos de distribuição de água pela cidade inteira, eu vejo o povo querer mais, eu vejo o povo não confiar na água do Saae. Eu vejo acusações para todo lado, eu vejo a necessidade humana de achar alguém á quem culpar, alguém para difamar nas redes sociais, alguém para desconstruir sem motivos. Eu tenho medo. As pessoas falam de amarrar em postes e jogar lama goela a baixo, falam de apedrejar em meio a rua como em tempos de caça a bruxas!
ENTENDAM: ameaçar online não te faz tão diferente de quem tu ameaças.
ENTENDAM: ameaçar online não te faz tão diferente de quem tu ameaças.
"Algum sábio cientista disse uma vez, que, por conta da Pangéia e outras coisas que não sei , Minas já teve mar. Minas também já teve o Rio Doce."
- Kayo Resende, 15 anos
Acusam a privatização, acusam FHC, acusam a Samarco, a Vale, a BHP, seus donos. Acusam a prefeitura, acusam o Estado, acusam o governo. Acusam o meu pai.
Laudos saem praticamente todo dia, afirmam que a água é potável sim! Ministério Público, ANA, Saae, Funed, todo mundo sabe. Qual a dificuldade? A água está aqui. Está com o cloro acima do normal? Está, mas não o suficiente para fazer qualquer mal. Todos já explicaram, a água está igual como esteve em 2010. Por que não houveram reclamações em 2010? Por que não acabaram com ninguém nas redes sociais em 2010? Simples, política. " Ah, é PT, é Dilma, é Elisa, esses corruptos, culpa deles", "Ah, quem mandou privatizar, FHC?". Se liguem! O problema está aqui, é agora, para que se preocupar em achar culpados quando precisamos é da solução?!
"I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?"
- Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987
- Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987
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